Infancia, adolescencia e mal-estar na escolarização: estudo de casos em psicanálise e educação

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Muito se tem falado e escrito sobre a crise da escola nos dias atuais. Professores desgastados e “desistentes” da sua posição de educadores, crianças e adolescentes apáticos ou hostis, pais impotentes e desorientados. Este parece ser um mote que tem sido reiterado nas discussões sobre a escola no Brasil hoje. No nosso país, onde a universalidade de uma educação pública, inclusiva e de qualidade ainda não se colocou como um bem de todos e para todos, tal situação de injustiça agrava as questões estruturais das relações intergeracionais e do laço social.

Ao se debruçarem sobre este “cenário desértico”, as autoras apontam para como a medicalização e a patologização dos comportamentos e atitudes das crianças e adolescentes podem ser vistas como uma solução para os impasses nas relações intergeracionais e daqueles constitutivos do ato de educar. A oferta cada vez mais diversa e ampla de medicamentos como psicofármacos, que podem aliviar e apaziguar os sofrimentos e as turbulências diárias do viver, vão ao encontro da visão de que o mal-estar na convivência humana pode ser eliminado.

Este livro apresenta uma análise aprofundada e cuidadosa de cinco casos de crianças e adolescentes remetidos aos serviços de saúde mental a partir de queixas escolares. A enorme importância e a relevância deste estudo está em poder articular as visões das próprias crianças e adolescentes sobre seu sofrimento e inadequação, com as de seus pais, as dos professores e as dos especialistas. Na confluência dessas perspectivas diversas e conflitantes, as autoras buscam compreender as tensões entre os ideais – de ser criança, de educação e de ser educador – e a realidade que constrange e limita nossas ilusões, e nos faz ressignificá-las à luz do esforço de estabelecer novos pactos e acordos. A análise das autoras atualiza as contribuições e a discussão da literatura na área, mostrando como a complexa trama de atores e interrelações na escola captura o devir da criança e do educador na previsibilidade das demandas da sociedade, voltadas ao desempenho, consumo e bem-estar. Desse modo, colocam em cena como os discursos e as práticas presentes no campo da educação tentam estabilizar aquilo que excede à linearidade dos objetivos formais e consensuais da escola e da sociedade.