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Entre Minas: Minas Gerais e a mineração
22/06/2023Artigo publicado originalmente em 30 de maio de 2023, no site do Instituto Guaicuy por Ellen Joyce Marques
“Entre Minas“, teve lançamento em Mariana (MG) no dia 2 de junho de 2023. Com o apoio da NAU Editora, o projeto explora visualmente a relação entre o estado de Minas Gerais e o impacto da indústria da mineração. Confira a entrevista realizada pelo Instituto Guaicuy com o autor e saiba mais sobre esse livro-exposição.
Livro-exposição aborda a relação entre Minas e a mineração
Em parceria com pessoas atingidas e organizações locais, o fotógrafo Wilson da Costa lança seu livro “Entre Minas”, nesta sexta, 02/06, a partir das 19h, no auditório do Instituto de Ciência Humanas e Sociais (ICHS), da UFOP, em Mariana (MG). Instituto Guaicuy e Cáritas MG, as duas assessorias técnicas independentes que atuam ao lado das pessoas atingidas pela mineração em Ouro Preto e Mariana, respectivamente, apoiam a obra, que se pretende abrangente tanto no trato do tema, que é duro para as populações que sofrem os impactos da mineração predatória, quanto no alcance da narrativa imagética e textual para um público que pouco sabe dos danos causados pela mineração no país.
Sobre o livro e o fotógrafo
Nascido em Niterói (RJ), o fotógrafo Wilson da Costa tem uma relação de afeto com o estado de Minas Gerais, especialmente com a região dos Inconfidentes, cuja efervescência cultural atraiu o jovem fluminense na década de 1980. Seu retorno às terras mineiras, porém, se deu por um motivo doloroso. “Em 2015, quando foi o desastre-crime da Barragem de Fundão eu não pude me ausentar do Rio, mas quando, em 2019, aconteceu novamente o mesmo crime eu saí de lá com a intenção de fazer algo sobre a mineração, indo um pouco além da cobertura dos crimes, eu queria lidar com a mineração num campo maior de discussões e reflexões”. Assim surgiu o livro-exposição “Entre Minas”, uma narrativa fotográfica que envolve tempos, afetos, reflexões e provocações a respeito do que o autor chama de “relações trágicas entre Minas Gerais e a mineração”.
Ao lado de Wilson da Costa na mesa de lançamento estarão Luzia Queiroz, membro da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Fundão de Mariana (CABF) e Sérgio do Carmo Papagaio, editor-chefe do jornal A Sirene. O evento também vai contar com uma exposição fotográfica e roda de conversa com os presentes.
Além do Instituto Guaicuy e da Cáritas MG, o lançamento do livro conta com o apoio da CABF, do Jornal A Sirene, da disciplina Classes e Movimentos Sociais, do curso de Serviço Social; do projeto Flor de Anahí: Mulheres Lutadoras Sociais – Edição Mulheres Lutadoras na Mineração, do Núcleo de Estudos, Pesquisa e Extensão “Mineração do Outro”, do PET Conexão de Saberes e da Frente Mineira de Luta das Atingidas e Atingidos pela Mineração (Flama). Confira a entrevista completa com o fotógrafo Wilson da Costa.
IG: Qual a sua relação com o território mineiro e por que abordar a mineração nesse livro?
Wilson: Sou nascido em Niterói em 1963 e desde o início dos anos 1980 eu venho a Minas. Eu fiz isso durante muitos anos, até 1987, quando casei e passei a ir mais para o Nordeste. Eu frequentava os festivais de música em Itabirito e Ouro Preto, foram também inúmeros carnavais. Isso foi criando uma relação afetiva e muito estreita com Minas e a cultura mineira e foi isso que me fez voltar aqui. Em 2015, quando foi o desastre-crime da Barragem de Fundão, eu não pude me ausentar do Rio mas, quando em 2019 aconteceu novamente o mesmo crime, eu saí de lá com a intenção de fazer algo sobre a mineração, indo um pouco além da cobertura dos crimes, eu queria lidar com a mineração num campo maior de discussões e reflexões.
Esse livro é o resultado de uma narrativa de imagens e textos que tratam das relações trágicas entre Minas Gerais e a mineração. Eu introduzo tempos passados com imagens de arquivo, entre outras reflexões, imagens que saem um pouco de um caráter documental e podem provocar outras abordagens, outros pensamentos.
IG: Para quem esse livro foi pensado e qual o objetivo desta publicação?
Wilson: Esse livro foi pensado com a pretensão de alcançar um público muito diverso. Ele inclui tanto pessoas atingidas pela mineração, quanto instituições e movimentos sociais, além de um público leigo. Eu já tive uma resposta muito muito boa dos atingidos da Comissão de Atingidos pela Barragem de Fundão de Mariana, a CABF, que já conheceram as imagens e a narrativa desse livro em outro formato. Então, entendi que ele afeta muito essas pessoas. Também tem uma resposta de um público leigo, de fotógrafos inclusive, que entendem que é uma narrativa que dialoga muito com o campo fotográfico. É um livro que pode afetar bastante pessoas que não têm muita, ou nenhuma relação, com a questão da mineração.
O objetivo é que ele alcance o maior público possível e, para isso, eu entendo que ele tem que primeiro existir nos territórios atingidos, nas comunidades, nos movimentos. Acho que ela ganha mais corpo e legitimidade dessa forma. O público leigo me interessa e o tempo de alcançá-lo vai chegar, porque é importante levarmos esse assunto, que muitas vezes fica restrito aos territórios e pessoas atingidas, para outros campos de discussão, como universidade e, principalmente, escolas, isso é muito importante pra mim.
IG: Quais parcerias foram mobilizadas para fazer e lançar esse livro?
Wilson: Eu acho que as parcerias começaram quando eu conheci os atingidos, o diálogo que foi criado cria uma espécie de cumplicidade. Eu me sinto como cúmplice dos atingidos, o que aumenta o meu grau de compromisso. O meu propósito é muito menor do que a vida deles, então é muito importante que seja uma relação bem sincera. Eu fico muito grato por ter tido essa resposta positiva de todos com quem, até agora, eu conversei. No campo institucional, fiquei muito contente quando o Instituto Guaicuy e a Cáritas entenderam o objetivo do livro, a minha proposta e aceitaram dar esse apoio. É uma forma de acreditar que o que eu apresentei até agora é algo importante, que merece o espaço dentro do campo de luta pela reparação. No caso de Mariana, já são mais de sete anos, um tempo criminosamente longo demais.
IG: Qual a importância da parceria que você firmou com as Assessorias Técnicas Independentes que atuam em Mariana e Ouro Preto?
Wilson: A importância de uma relação com as assessorias técnicas é enorme, porque é uma rede de apoio que, ao longo dos anos, vem se estabelecendo de uma maneira muito intensa. É algo com o qual a gente não pode deixar de contar para enfrentar esse poder desigual que as mineradoras e a Fundação Renova possuem. O que as assessorias já construíram de um corpo de ações e conhecimentos é inestimável para manter, minimamente, a justiça chegando aos atingidos. Com esse livro, espero estreitar ainda mais essas parcerias com as assessorias.