Pensar na Morte para Pensar na Vida: Reflexões

A produção cultural humana sempre abordou o tema da morte e suas reflexões de diversas maneiras. Em determinados pontos da história, reflexões sobre a morte, suas consequências e as complicações que a rodeiam foram temas recorrentes na arte e na literatura. Naturalmente desconfortável, mas também de grande valor simbólico, a abordagem torna possível uma expansão de pensamento e um melhor entendimento das realidades da vida.

Memento Mori: uma reflexão sobre a brevidade da vida

Memento Mori é um termo que denota uma abordagem simbólica sobre a morte nas artes visuais e na literatura. Baseado em tendências filosóficas da antiguidade clássica, o memento mori serve como um alerta para a brevidade da vida, e a banalidade das preocupações mundanas. Reflexões sobre a morte nas artes visuais eram comuns na arte ocidental cristã a partir do período medieval. Permeadas por um foco no mundo espiritual como mais importante do que o físico, obras apresentavam caveiras e ossos em naturezas mortas ou mesmo temas como ampulhetas e relógios denotando a inevitável passagem do tempo. Um exemplo famoso é a caveira na janela na obra de São Jerônimo em seu Gabinete de Albrecht Dürer.

A Morte na Literatura Brasileira

Reflexões sobre a morte são recorrentes na literatura brasileira. Clássico da literatura nacional, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, aborda um narrador que relata sua autobiografia depois de morto. Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, conta a história de uma pequena cidade na qual os mortos vagam pela cidade durante uma greve de coveiros. Ambas obras utilizam a morte e seus desdobramentos como um artifício para tratar de temas que vão além de reflexões sobre o fim: a morte, nesses dois casos, é um recurso para falar sobre a vida.

O Céu no Meio da Cara

Em seu livro de estréia, Júlia Portes apresenta um romance que se desdobra a partir de um fim: a personagem Laura, que trabalha como maquiadora de cadáveres, prepara o corpo da própria mãe, enquanto sua avó, Carmelita, a observa. As personagens utilizam o acontecimento para revelar, aos poucos, suas memórias, histórias e segredos. O romance se apóia no artifício da morte para discutir, mais do que tudo, a vida.

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