Autobiografia de um Gigante Ah!(Não) 

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Esta é a autobiografia de uma das figuras mais proeminentes da história do anarquismo português. O Zé Maria, como é mais conhecido entre os pares, foi e é um homem de valores profundos, apoiados em sólidas bases, preso a uma terra que vive e ama profundamente. Urbanita por acidente, operário por aprendizagem, exilado por convicção, intelectual porque tal é a condição humana de ser reflexivo e consciente, o Zé Maria foi sempre um apaixonado pelas coisas, pelos pequenos toques da vida autenticamente livre e não condicionada. É um observador empenhado da germinação dos frutos da terra e um acolhedor encantado da vida, seja ela animal ou humana. Comunga uma paixão pelos nossos pequenos amigos felinos, esses seres que conjugam a altivez aristocrática e distante, de uma independência feroz, com o terno aninhar e amassar, em busca de calor corpóreo. O gato, como já muitos afirmaram, é o mais anarquista ou libertário de todos os animais. É o símbolo da liberdade e do não reconhecimento de donos ou mestres. Dificilmente encontraríamos melhor símbolo para descrever o Zé Maria. Lutando por um mundo sem amos nem servos, espera‑se sempre do Zé Maria uma catilinária feroz aos desvarios da ordem liberal e a deste mundo judaico‑cristão castrador e limitativo, mas isso não o impede de ser uma figura profundamente religiosa, onde a religião assume o seu original papel de re‑ligare, de estabelecer a conexão entre pessoas e fundar um grupo de crentes, sobretudo se esses se sentarem a uma mesa comunal e puderem experimentar os prazeres da carne, bem regados com o «sangue do senhor» — uma das suas muitas típicas expressões! Conseguimos visualizar esta simpatia telúrica e festiva, e inserir com facilidade o nosso Zé Maria numa pintura de Brueghel, o jovem, ou de Steen, num misto de festa e dança, onde os pecados não são vícios, mas formas prazenteiras que existem apenas para ser vividas e desfrutadas.