Pesquisar COM: Caminhos Férteis

26/04/2023

Fruto dos encontros da Jornada de Pesquisas e Escritas em Psicologia, realizado na Universidade Federal de Alagoas em 2019, essa publicação propõe repensar a metodologia de pesquisa acadêmica na Psicologia, deslocando seus preceitos de um modelo de objeto de estudo dado e fixo para uma prática relacional que abarca multiplicidades num processo mais circular e menos vetorial. O livro é uma coletânea de trabalhos feitos de acordo com essa forma de abordagem mais inclusiva e inovadora das práticas de pesquisa.

 

Pesquisar COM: política ontológica e deficiência visual

A coletânea tem como pedra fundamental o texto “PesquisarCOM: política ontológica e deficiência visual”, da professora Márcia Moraes, uma revisão de outro trabalho, publicado em 2010 no livro EXERCÍCIOS DE VER E NÃO VER: Arte e Pesquisa COM pessoas com deficiência visual. Moraes apresenta seu pensamento-chave baseado em uma experiência desenvolvida na pesquisa com crianças cegas e de baixa visão. O relato descreve uma menina cega em uma oficina de teatro, onde em dado momento era esperado que ela dançasse com uma bailarina. A expectativa foi frustrada pela falta de referência visual de como bailarinas supostamente deveriam dançar, tendo somente os comandos verbais de pessoas videntes como guia.

O argumento de Moraes utiliza esse exemplo como metáfora para criticar modelos de pesquisa que assumem no pesquisado uma passividade, uma impossibilidade de definição, ressaltando uma estrutura de pensamento euro-americano que pressupõe que a realidade é algo fixo e que existe fora do pesquisador, indivíduo esse que deve, distanciadamente, apreendê-la. Como um contraponto, Moraes propõe entender a pesquisa como uma potência formadora de vetores de realidade. No exemplo citado, propor à menina um conceito de bailarina que faça sentido tanto para ela quanto para quem a vê sintetiza o preceito de pesquisar COM – ao invés de pesquisar SOBRE –, entendendo o esforço da pesquisa como uma RELAÇÃO entre realidades múltiplas que geram um resultado positivo em sua interação.

 

Caminhos Férteis

Buscando tensionar as noções convencionais de imparcialidade e distanciamento, os demais autores se utilizam intencionalmente de narrativas e linguagens mais pessoais. Nas primeiras páginas, na seção intitulada húmus, o livro se concentra em entender o advento do PesquisarCOM, experiências e impressões que delineiam o impulso de repensar os limites da pesquisa. As seções seguintes abrangem trabalhos de temáticas diversas que se alinham no uso da metodologia do PesquisarCOM. Lançando mão de histórias, de autobiografias e até da poesia, os textos tecem uma rede sensível de conhecimentos e experiências. Para além da abordagem metodológica mais “humana”, os autores recorrem também à escrita coletiva, à escrita e à troca de cartas, relatam experiências com cães-guia e consultam memórias e sabedorias ancestrais para adicionar repertório cultural e subjetivo aos ensinamentos da disciplina de Psicologia.

Mesmo diante do reconhecimento do caráter ousado de sua proposta metodológica, os trabalhos de pesquisa aqui reunidos não deixam de revelar uma sólida estruturação e interlocução bibliográfica com os referenciais teóricos do seu campo de estudos. Buscando um equilíbrio entre o rigor e a flexibilidade, ao longo de todo o livro vigora o entendimento de que não há diferença entre “o mundo lá fora” e o pesquisador que o desbrava. Em uma proposição inclusiva, o método prega que há de se entender a amplitude das relações entre pesquisador e pesquisado, admitindo que, em um ambiente positivo, é das múltiplas possibilidades de conexão entre os dois que surge o resultado.

 

PesquisarCOM: Caminhos Férteis para a Pesquisa em Psicologia se encontra à venda no site da NAU Editora. Clique aqui para adquirir seu exemplar.