Como Cícero e outros autores da sua geração, Lucrécio envolveu-se em um projeto cultural que criou na literatura latina um campo que, até então, era uma exclusividade grega. Grego no conteúdo filosófico, mas romano na forma e nas preocupações, o De rerum natura é uma das obras luminares que chegaram até nós em bom estado via tradição manuscrita, provendo um acesso a como pensadores antigos entendiam o universo, o mundo natural e o mundo humano. Em De rerum natura: Lucrécio e a religião romana, Maria Eichler parte da premissa de que o epicurismo defendia o ideal da liberdade das perturbações (ataraxia), o quietismo em relação aos distúrbios políticos e sociais. Essa é a ideia geral, mas uma das questões que suscita é: “o que é a política no De rerum natura”? Eis uma pergunta que não pode ser reduzida a meras questões de intenção autoral, mas depende de um estudo dos enquadramentos ideológicos e das circunstâncias nas quais o autor estava imerso – das quais ele mesmo podia não estar ciente. Trata-se de um questionamento que exige exercícios exploratórios que unam questões teóricas e históricas, e que considerem a relação intrínseca entre epistemologia, física, política e teologia mobilizada no poema.
Este é o Volume 3 da COLEÇÃO PPGH UNIRIO
A coleção PPGH-UNIRIO apresenta trabalhos produzidos no âmbito do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/UNIRIO. Inclui teses premiadas de pesquisadores doutorados pelo Programa, avaliadas por comissões independentes, e outras obras inéditas de membros do seu corpo docente, dedicadas a diversas áreas da historiografia. Esta realização conta com o apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ e do Programa de Excelência Acadêmica Proex-CAPES.
PREFÁCIO 7
Introdução 13
1. A teologia epicurista de Lucrécio: contexto e recepção na Roma do século I AEC 31
A comunicação pública em Roma e o diálogo com o pensamento grego-helenístico 37
Lucrécio e o epicurismo romano 49
Os Lucretii poemata e a declamação nos conuiuia 54
2. A ratio epicurista e a teologia de Lucrécio 75
O debate filosófico em torno da lei religiosa e dos auspícios 76
Religião e controle social no De legibus de Cícero 82
O sentido de pietas e a ausência de superstitio no De rerum natura 88
Lucrécio e a denúncia do sequestro da libertas do cidadão romano 93
O “cálculo” epicurista e a práxis ética do consilium 102
O combate ao temor religioso no De rerum natura: a libera uoluntas dos seres humanos 110
A teologia epicurista de Lucrécio: um novo “pacto cívico” com os deuses romanos 121
3. “Pensar em plena crise”: pietas e ação política epicurista na Roma do século I AEC 127
As três dimensões da experiência no fenômeno augural: “movimento”, “memória” e “performance” 131
A subversão da auctoritas religiosa na prece filosóficaà Vênus (Lucr. 1. 1-43; 62-79) 134
A utilidade cívica do epicurismo e o combate aos vícios da elite romana do século I AEC 153
A persona política de César e a subversão da auctoritas religiosa 160
A teologia política de César e a pacificação da República 168
As concepções de lei e justiça natural no livro 5 do De rerum natura e o caráter instrumental e utilitário do exercício da potestas 177
4. A ratio “popularis” e a instrumentalização dos sinais divinos 191
A polêmica acerca das predições e consultas oraculares públicas no De rerum natura e no De diuinatione de Cícero 199
A utilidade política da prudentia epicurista no campo da predição e da instrumentalização dos sinais divinos 207
De rerum natura: um estudo filosófico a serviço da serenidade 216
A “atualização” da auctoritas religiosa e a reformulação do imperium em Lucr. 1. 62-79 222
Considerações Finais 237
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 245